quarta-feira, dezembro 31, 2008

ezequiel 25:17

You read the bible Ringo...there's this passage i got memorized... Ezequiel 25:17 "The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of the darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is THE LORD when I lay my vengeance upon you."

I been saying that shit for years. And if you heard it, that meant your ass. I never gave much thought to what it meant. I just thought it was some cold-blooded shit to say to a motherfucker before I popped a cap in his ass. But I saw some shit this morning made me think twice. See, now I'm thinking, maybe it means you're the evil man, and I'm the righteous man. And Mr. 9mm here, he's the shepherd protecting my righteous ass in the valley of darkness. Or, it could mean you're the righteous man and I'm the shepherd and it's the world that's evil and selfish. I'd like that. But that shit ain't the truth. The truth is you're the weak. And I'm the tyranny of evil men. But I'm trying, Ringo. I'm trying real hard to be the shepherd.



Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) in Pulp Fiction, 1994

segunda-feira, dezembro 29, 2008

a queda



E eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu Próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência.

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço d'ouro,
Volve-se logo falso...ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente de um tesouro,
Morro à míngua, de excesso.

Alteio-me na cor à força de quebranto,
Estendo os braços d'alma - e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
- Vencer às vezes é o mesmo que tombar -
E como ainda sou luz, num grande retrocesso,
Em raivas ideais, ascendo até ao fim:
Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso...
...........................................................................................................

Tombei...

E fico só esmagado sobre mim!...



Mário de Sá-Carneiro in Dispersão, Paris 8 Maio 1913

domingo, dezembro 28, 2008

ouvi dizer...

"É triste não ter amigos?

Ainda mais triste é não ter inimigos.


Porque quem não tem inimigos,
É sinal que não tem:

Nem talento que faça sombra,
Nem carácter que impressione,
Nem coragem para que o temam,
Nem honra contra qual murmurem,
Nem bens que lhe cobicem,
Nem coisa alguma que invejem..."


Voltaire
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Nem disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada -
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essa e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz cansaço,
Esse cansaço,
Cansaço.


Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque amo o infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E ah! com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...


Álvaro de Campos (09/10/1934)

a beleza real


"Quando então alguém, subindo a partir do que aqui é belo, através do correcto amor aos jovens, começa a contemplar aquele belo, quase que estaria a atingir o ponto final. Eis, com efeito, em que consiste o proceder correctamente nos caminhos do amor ou por outro que se deixe conduzir: em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo."


Platão in "O Banquete"

sexta-feira, dezembro 26, 2008

começou assim...

...no seguimento do post anterior (há meia hora antes) desencantei por aqui a versão original da musica, tambem da lavra do Bob Geldof e do Midge Ure, a verdadeira precursora de eventos como o live aid, live 8 ou live earth...na verdade para quem no fundo no fundo até é fã dos "eighties" é sempre agradavel ver gente dos Police (sting), dos Duran Duran (simon le bon), dos Spandau Ballet (Tony Hadley), dos U2 (Bono), dos Status Quo (Francis Rossi e Rick Parfitt) ou tipos como o Paul Young e o Paul Weller darem a voz ao manifesto... aqui fica a mensagem:



It's Christmas time,
there's no need to be afraid.
At christmas time
we let in light and banish shade
And in our world of plenty
we can spread a smile of Joy
Throw your arms around the world
at Christmas time.

But say a prayer,
Pray for the other ones.
At Christmas time it's hard
but when you're having fun...
There's a world outside your window
and it's a world of dread and fear
Where the only water flowing is
the bitter sting of tears
Where the Christmas bells that are ringing
are the clanging chimes of Doom
Well, tonight thank God it's them istead of you.

And there won't be snow in Africa this Christmas time
The greatest gift they'll get this year is life.
Ohh....
Where nothing ever grows
No rain or rivers flow
Do they know it's Christmas time at all?

Here's to you...
Raise a glass for everyone
Here's to them
Underneath that burning sun
Do they know it's Christmas time at all?

Feed the world...
Feed the world...

Feed the world,
Let them know it's Christmas time again.
Feed the world,
Let them know it's Christmas time again.

Do they know it's christmas

...apesar das horas tardias e do atrasado da altura apeteceu-me mesmo deixar aqui esta lembrança...

segunda-feira, dezembro 22, 2008

led zeppelin - babe i'm gonna leave you

Babe, baby, baby, I'm Gonna Leave You
I said baby, you know I'm gonna leave you
I'll leave you when the summertime
Leave you when the summer comes a rolling'
Leave you when the summer comes along...

Babe, babe, babe, babe, babe, babe, Baby, baby, I won't wanna leave you
I ain't joking' woman, I got to ramble...Oh yeah,
Baby, baby, I won't be there
really got to ramble
I can hear it calling' me the way it used to do
I can hear it calling' me back home...

Babe oh baby, I won’t leave you know
Oh baby, you know I can hear it calling’ me you know
oh I can hear it calling' me
I can hear it calling' me the way it used to do, oh...

I know, I know, I know I never, never, never,
never, never, I’ll gonna leave you baby
But I got to go away from this place, I've got to quit
Ooh baby, baby, baby, baby,
Baby, baby, baby ooh...
Can you hear it calling' me?

Woman, woman, I know,
I know it's good to have you back again
And I know that one day baby, it's gonna really grow, yes it is
We gonna go walking' through the park every day...
What I say, every day. It’s really growing'...

It used to really, really good...
You made me happy at the simple day
but now I have got to go away
Baby, baby, baby
that’s when it's calling' me
oh...that’s when it's calling' me...back...home.



Brendan/Page/Plant in Led Zeppelin I, 1969

terça-feira, dezembro 16, 2008













Prefiro rosas, meu amor, à pátria,

E antes magnólias amo

Que a gloria e a virtude.



Logo que a vida não me canse, deixo
Que a vida por mim passe

Logo que eu fique o mesmo.



Que importa àquele a quem já nada importa

Que um perca e outro vença,

Se a aurora raia sempre.



Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem

E com o Outono cessam?



E o resto, as outras coisas que os humanos

Acrescentam à vida,

Que me aumentam a alma?


Nada, salvo o desejo de indif'rença

E a confiança mole

Na hora fugitiva.




Ricardo Reis, 01/06/1916

segunda-feira, dezembro 15, 2008

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?


Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa a fresco numa pedra.


Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos dos filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.


Sim, eis que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.


Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos (Athena n.º 4, Janeiro de 1925)

sexta-feira, novembro 14, 2008

sem pés nem cabeça

(...)
Cabeça, pés, rapsódia,
Mscelânea para três,
E esta, só por paródia,
Vai sem cabeça nem pés.


Ó lua que vais tão alta
Ó minha mãe minha amada
Cabelo branco é saudade
Era já noite cerrada.
Cabelo branco é saudade
Era já noite cerrada.


Espinafres, rabanetes,
Tubarões e carapaus,
Fogo de vista, foguetes
E um cortejo de lacraus.
Os tempos estão muito maus,
Acende a luz na ribalta,
P'ra morrer já pouco falta,
Quem é que quer ler a sina?
Toma lá penicilina,
Ó lua que vais tão alta.
Toma lá penicilina,
Ó lua que vais tão alta.


Sou um poeta de fama,
Poeta das violetas,
Escrevo os meus versos à lã,
Inspiro-me nas valetas.
ninguém me faça caretas,
Ai que rica marmelada,
Tomates para a salada,
Os burros não são cavalos,
Dê-me pomada p'rós calos!
Ó minha mãe, minha amada.
Dê-me pomada p'rós calos!
Ó minha mãe, minha amada.


Três vezes nove vinte sete,
Ai que moças tão bonitas,
Vira a folha ao canivete,
Fá fitas muito esquisitas.
Mas que chusma de parasitas,
Anda aí pela cidade,
Sou maluco, isso é verdade,
Mas tenho aqui meia leca,
Na cabeça de um careca,
Cabelo branco é saudade.
Na cabeça de um careca,
Cabelo branco é saudade.

Andas no rigor da moda,
Ai que giro que isto é,
Sexta-feira é que anda à roda,
Quem me compra o burrié.
Dói-me o calcanhar do pé,
Os mudos não dizem nada,
Maria, traz cá a escada!
E um garrafão de aguardente,
Nascia o sol no poente,
Era já noite cerrada.
Nascia o sol no poente,
Era já noite cerrada.


Irmãos Catita in Mundo Catita, 2001

terça-feira, novembro 11, 2008


Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço -

Um mar onde boiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não sei e sei-o bem.


Fernando Pessoa in Cancioneiro, 13/09/1933

terça-feira, junho 17, 2008

vento do espírito



Senti passar um vento misterioso,
Num torvelinho cósmico e profundo.
E me levou nos braços; e ansioso
Eu fui; e vi o Espírito do Mundo.

Todas as cousas ermas, que irradiam
Como um nocturno olhar inconsciente,
Luz de lágrima extinta, não sentiam
A trágica rajada, que somente

Meu coração crispava! Ó vento aéreo!
Vento de Exaltação e Profecia!
Vento que sopra, em ondas de mistério,
E tanto me perturba e me extasia!

Estranho vento, em fúria, sem tocar
Na mais tenrinha flor! E assim agita
Todo o meu ser, em chamas, a exalar
Luz de Deus, luz de amor, luz infinita!

Vento que só encontras resistência
Numa invisível sombra... Um arvoredo,
Ou pedra bruta, é como vaga essência;
E, para ti, eu sou como um penedo.

E na minha alma aflita, ó doido vento,
Bates de noite; e um burburinho forte
A envolve, arrasta e leva, num momento;
E vai de vida em vida e morte em morte.

Vento que me levou, nem sei por onde;
Mas sei que fui; e, ao pé de mim, bem perto,
Vi, face a face, a névoa a arder, que esconde
O fantasma de Deus, sobre o deserto!

E vi também a luz indefinida
Que, nas trevas, se fez, esclarecendo
Meu coração, que voa, além da vida,
O seu peso de lágrimas perdendo.

E aquele grande vento transtornou
Minha existência calma; e dor antiga
Meu rude e frágil corpo trespassou,
Como a chuva uns andrajos de mendiga.

E fui num grande vento; e fui; e vi:
Vi a sombra de Deus. E alvoraçado,
Deitei-me àquela sombra, e, em mim, senti
A terra em flor e o céu todo estrelado.


Teixeira de Pascoaes in As Sombras, 1907

quarta-feira, maio 28, 2008

água morrente



Meus olhos apagados,
Vede a água a cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.


Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente.



Camilo Pessanha in Clepsidra, 1920

sábado, março 22, 2008

Ó Virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.

Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O Sol que tomba, aureolando o mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!



António Nobre in Só, 1886

sábado, janeiro 26, 2008

julieta su & sida

Vento assobia na avenida
Mulheres de vidro, meias de vida

De noite e dia a mesma roupa

Droga és sempre pouca

Julieta olha por mim,

Su, tua voz é rouca

Já nasceste assim.

Machos castrados, gajas na tropa

Americanos bebem "Europa",

Vêem Lisboa sem camisa,


E, a malta é louca

São Romeus cardeais,

Su, mandante boca
Travestis oficiais .

Julieta Su & Sida

São perigosas, são comida,
Só se paga desta vez,


Julieta Su & Sida

São bilhete só de ida
Sobrevivem e vocês?


Rui Reininho, in Tudo o que voce queria ouvir, 1996