segunda-feira, dezembro 29, 2008

a queda



E eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu Próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência.

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço d'ouro,
Volve-se logo falso...ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente de um tesouro,
Morro à míngua, de excesso.

Alteio-me na cor à força de quebranto,
Estendo os braços d'alma - e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
- Vencer às vezes é o mesmo que tombar -
E como ainda sou luz, num grande retrocesso,
Em raivas ideais, ascendo até ao fim:
Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso...
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Tombei...

E fico só esmagado sobre mim!...



Mário de Sá-Carneiro in Dispersão, Paris 8 Maio 1913

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